A Gestão de ativos voa sobre os trilhos
Gestão de ativos voa sobre os trilhos
Sabemos que a demanda por malha aérea é gigante, mas que, para o transporte acompanhar o crescimento da população – com expectativa de atingir 9,5 bilhões, até 2050, é preciso mais. Nesta esfera, as ferrovias ganham protagonismo em âmbito mundial por fornecerem soluções de mobilidade rápida e sustentável.
No Brasil, o Marco Legal das Ferrovias busca modernizar, trazer mais investimentos e gerar empregos, para isso, cria uma concessão que permite a outorga por autorização, como já era possível nas alçadas portuárias e aeroportuárias. Agora, o poder público possibilita que o particular se responsabilize pela operação investindo em projetos de seu interesse, ao contrário do que ocorria antigamente com os custeados pelo Estado. Com a nova autorização, o investidor pode construir e operar, por meio da regulação setorial. A expectativa do governo é destravar R$ 80 bilhões de recursos para a área dos trilhos.
Já para os negócios, financeiramente, o investimento a longo prazo trará retorno. Posso até afirmar que a malha rodoviária não será o único meio de transporte para curar as dores das futuras necessidades de mobilidade populacional. Mas para isso, é necessário que as companhias envolvidas foquem na gestão de ativos, em tecnologias disruptivas e na otimização de recursos.
Nos
continentes da Europa e da Ásia, as ferrovias de alta velocidade contribuem
para o crescimento das economias globais. Países como França, Alemanha,
Espanha, Índia, Japão e China investem no aumento de rotas de Alta Velocidade 2
(HS2). A China, por exemplo, tem planos de entregar 50 mil quilômetros dessas
ferrovias até 2025, enquanto a Inglaterra pretende ter os trens convencionais
mais rápidos do mundo operando de forma regular, até 2030 – otimizando as
viagens intermunicipais, o transporte de pessoas e o frete de produtos. Também
no Reino Unido, a passarela Ava foi construída com o propósito de aprimorar a
forma de como a infraestrutura ferroviária é entregue. Seu diferencial é que ao
invés de ter sido construída em um pátio de fabricação de aço e enviada para
outro lugar, a Ava foi projetada para ser montada em módulos de 1,2 metros de
comprimento usando elementos estruturais
cortados de chapas planas de aço inoxidável, adequando-se à localização, ao
número de faixas, às linhas cruzadas e assim por diante. Devido a isso, possui
uma estrutura mais leve, diminui a capacidade de elevação necessária – o que é
um grande benefício – facilitando a fabricação e instalação.
No Brasil, temos uma empresa que administra uma malha de 1643 km nos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Duas ferramentas têm sido essenciais para que a atuação nessas regiões ocorra da melhor forma: Optimove e Optimore. A primeira é um sistema que possibilita a visão futura das linhas, utilizando critérios como a quantidade total de trens, possibilidade de cruzamentos, velocidades máximas por trechos, inclinação de via, entre outros. Com os cálculos obtidos pela matriz de cruzamento destas variáveis, o algoritmo auxilia na escolha do melhor cenário para o tráfego ferroviário. Já a segunda plataforma promove o gerenciamento da ocupação mais produtiva dos vagões nos terminais de carga e descarga, aprimorando os processos e reduzindo o tempo de espera.
Outras tecnologias úteis também são usadas em outras companhias para o aprimoramento de manutenção, que contam com lasers sob o estrado para a prospecção e análises de condições geométricas das vias, verificando o desgaste dos trilhos, o alinhamento e nivelamento. E também, ferramentas de análises para o ciclo de vida útil dos ativos concessionados e necessidade de modernização ou trocas.
Analisando
o cenário nacional, ele é bem promissor, mas ainda requer muito investimento.
De acordo com o Ministério da Infraestrutura, existem apenas 25% das vias em
plena operação; destas 46% estão com o tráfego baixo e 29% sem operação
comercial.
Quem sabe um dia os trilhos se tornem o principal aliado da mobilidade... O próprio Marco Legal das Ferrovias já contribui para que isso se torne real. Podemos dizer que para isto se tornar realidade é extremamente importante a gestão destes ativos em todo o ciclo de vida, incluindo o descarte. Mas vale lembrar que análises, boas tecnologias e gestão de ativos continuarão sendo essenciais para o avanço de qualquer negócio.
Marisa Zampolli é CEO da MM Soluções Integradas, certificada CSAM; membro do Comitê Feminino da ABRAMAN e especialista em gestão de ativos.