QUE A FORÇA DE UMA MULHER DA MANUTENÇÃO ESTEJA SEMPRE A SEU FAVOR


Desde que foi concebida, a ideia de manutenção no mundo da indústria esteve rodeada pela presença masculina, que ainda hoje é majoritária em suas frentes.

Contudo, com o avanço das mudanças no contexto social mundial, a conquista do espaço feminino vem se tornando cada vez mais evidente, e a área de manutenção é um exemplo de tal afirmação.

É fato que em algum momento as mulheres alcançariam sua força neste setor, mas como é, realmente, ser uma mulher na manutenção?

O ambiente profissional delineado é robusto, bruto e carregado de tradicionalidade em suas mais diversas versões.

Essa bagagem dignamente histórica chega a se tornar, em alguns momentos, pesada e influência diretamente em iniciativas de remodelagem de processos, condutas e até mesmo melhorias concretas e coerentes para quaisquer que sejam as frentes de trabalho. Contudo, com a gestão e a liderança adequada, boas modificações são executadas e especialmente essa questão permite que hoje estejamos no patamar que estamos.

Porém, em sua maioria, a gestão e liderança respeitada é acatada por estar intimamente ligada aos padrões sempre associados ao ramo: masculinidade.

Ser uma mulher de frente a desafios em um cargo focado em manutenção é estar constantemente buscando ser entendida como uma não afronta ao “sistema que sempre deu certo assim”, mas sim como um adicional grandioso para novas visões e novas formas de encarar demandas e reformulações sistêmicas.

Um estudo foi levado a cabo por uma equipe da Universidade de Edimburgo, Escócia, e revelou que existem diferenças nos cérebros dos dois sexos: o dos homens é maior e o das mulheres é mais desenvolvido em certas zonas ligadas com a tomada de decisões e detalhes.

Uma atividade técnica antes realizada com brutalidade e robustez, com a presença de uma profissional, passa a ser feita com colaboração de aparatos e ferramentas mais específicas, que diminuem a necessidade da força humana e agora segue um processo de automatização. Um processo deixado de lado por ser muito refinado e pouco entendido, passa a trazer eficácia na gestão de um conjunto e/ou equipe por ser, agora com uma gestora, entendido em sua especificidade e detalhes mais aprofundados.

Um ato burocrático, com papéis e mais papéis a serem preenchidos, partem para um fluxo mais simples definido por uma jovem estagiária que decide inovar usando algo que aprendeu na universidade.

Esses podem ser alguns exemplos de como a presença de uma mulher passa a se

tornar evidente e trazer resultados sem ninguém notar que tudo pode ser

enquadrado por causa de seu gênero.

Ser uma mulher na manutenção é viver o olhar mais crítico, sistemático do ponto de vista do detalhe e das novas ideias; é entender que um parafuso fora do lugar certo literalmente encadeia uma série novos erros consecutivos que podem ser mitigados por um simples minuto de aperto no lugar certo.

Mas será que é fácil deixar isso evidente no seu próprio ambiente de trabalho? Como encaradas são as proposições femininas num ambiente masculino sobre erros e acertos de seus companheiros? Apontar o que precisa ser modificado e que está em desacordo com o objetivo final não é uma tarefa fácil.

Muitas vezes encarada como ríspida, opressora e até mesmo mal-educada quando necessário falar com mais profundidade, o que em muitos casos é a única forma possível para ser ouvida. A repetida sensação de precisar ser mais sisuda, demonstrando-se forte a todas as horas para não se permitir ser engolida em uma sala com 15 colegas sendo o bendito fruto entre os homens.

O processo de crescimento de carreira é, senão, o mais esclarecedor. Quando uma mulher se descobre enquanto amante da manutenção, inicia seu descobrimento diário. A postura e até a moda própria muda; entende sua posição, seu lugar, as necessidades gerais para poder se manter ali, e se vê na ponta do iceberg cotidianamente tendo que decidir de hora em hora se é nisso que realmente encontrou paixão.

Mas e quando a resposta é sim? Firma-se uma nova mulher, um novo nascimento profissional. Todos os conhecimentos obtidos até esse momento se tornam importantes, mas não mais importantes que o desejo de respirar e sobreviver a tudo que se mostra ingrato ao que você quer respirar.

Como todo ponto há um contraponto, existe a alegria surreal de encontrar uma profissional entre os muros construídos. É indescritível a sensação de se deparar com mais uma sonhadora da manutenção perdida entre os caminhos as vezes tão solitário.

Presenças essas distintas: desde uma gestora experiente com uma visão profunda e realista do que se há pela frente até uma jovem estagiária com aquele brilho no olhar de quem está prestes a viver o que um dia você também já viveu. Perceber que aquele ambiente as vezes difícil e que te força a ser empoderada para ser notada pode ter também um dia de leveza e compartilhamento de sorrisos com mais uma sonhadora do mundo dos reparos.

É libertador viver a feminilidade onde há muito tempo não se permitiu existir.

A todas as guerreiras e sonhadoras da manutenção, que a força da mudança e do desejo de ser mais que uma mulher onde um dia ninguém te quis esteja sempre a seu favor. Que sejamos ouvidas, imbatíveis, inigualáveis e, acima de tudo, dispostas e estender a mão e abrigar quem quer fazer parte deste lado da força.

Correção com abrigo, força com coragem e sonho com ação: somente com esse combo é possível respirar e inspirar a manutenção mundo a fora.


Sarah de Oliveira

Comitê Feminino de Manutenção e Gestão de Ativos - ABRAMAN